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25.º Festival de Jazz do Valado de Frades

 

Jazz no Valado 2022

 

Escrevi sobre o Jazz no Valado:
Fenómeno de longevidade, o Festival de Jazz do Valado dos Frades entra nas duas últimas semanas com uma programação imbatível. Ao longo de um quarto de século o Valado Jazz tem-se afirmado como um dos mais importantes festivais de Jazz nacionais (de programação quase inteiramente nacional), mercê de uma programação sabedora – do ilustre Adelino Mota -, mas de igual forma da generosidade e entusiasmo da equipa que o produz, e do público.

Nos últimos anos o festival tem-se desenrolado em duas fases, uma primeira com uma programação mais alargada e popular, na Nazaré, e uma segunda, mais dura, eventualmente mais mainstream (mesmo se muitos dos projectos que por lá passam pouco tenham de tradicional, como é o caso do «Two Maybe More» de Pedro Moreira). Este ano, essa programação mais alargada pôs frente a frente a cantora Lena d’Água e a ecléctica e proficiente Orquestra de Jazz do Município da Nazaré, levou à Nazaré dois velhos amigos: Maria João e Mário Laginha; e ainda duas orquestras de dixieland, que percorreram as ruas da Nazaré e Valado dos Frades.

A programação dura (partindo da ideia de que o Jazz é a música que os músicos de Jazz tocam – mesmo se muito do que tocam vão buscar a outros lados) começa na próxima quinta, 19 de Maio, na Sala do Clube do Valado dos Frades.

Só assisti a alguns dos concertos que se realizaram no Clube.

Mais espaçosa e dotada de um palco maior, a Sala do Clube do Valado dos Frades possui uma melhor acústica e adequação como sala de concertos que a histórica sala da BIR, mas é menos acolhedora, o que talvez se sinta na proximidade entre o público e os músicos (ou talvez que apenas me aperceba disso porque a sala da BIR os aproxime em sobejo). Mas a pandemia a isso obrigou, e é evidente que o palco do Clube é muito mais confortável para os músicos. Como referi na antecipação do festival, Adelino Mota, o director, programou um festival ecléctico, mantendo para o Valado uma programação Jazz musicalmente mais forte.

Carlos Azevedo Quarteto «Serpente»
 Carlos Azevedo veio ao Valado dois Frades apresentar o há muito aguardado novo disco, «Serpente». Muitos anos à frente da Orquestra Jazz de Matosinhos, na condução, tarimbado na composição e orquestração, a música de Carlos Azevedo acusa a experiência nas composições e nos arranjos, nos detalhes e na liderança. Nada é deixado ao acaso na música de Azevedo, meticulosamente construída, que a banda executa com rigor. Momentos interessantes entre a guitarra e o piano, um contrabaixo sempre atento e uma bateria que não é capaz da vulgaridade. Talvez, talvez, que tenha faltado algum espaço para as prestações individuais dos membros da banda, que foram quase sempre reservados para o piano. Um bom regresso de Carlos Azevedo aos discos. 

André Murraças Quarteto
Diria que André Murraças possui um som de saxofone atípico no panorama jazz nacional, que me recorda o som do grande (e injustiçado) Hank Mobley, fluente, lírico, e algo doce. Música bem construída, secção rítmica competente a servir o saxofone, num concerto saboroso e despretensioso.

Pedro Moreira Sax Ensemble «Two Maybe More»
Tendo ouvido o disco de Pedro Moreira (e votado, como o disco do ano de 2021), foi com grande expectativa que me dispus a assistir à sua apresentação ao vivo. E se, no essencial, na deslumbrante composição, a música de Pedro Moreira não desiludiu, eu senti que na apresentação ao vivo a música não soube descolar-se do carácter de música de câmara. Os solos em especial soaram-me por algo forçados e desajustados e por vezes excessivamente longos. Algo que eu creio Pedro Moreira deveria resolver, até porque os músicos em palco são a nata dos saxofonistas nacionais, mas a direcção pertence-lhe.
Enfim, se o espectáculo pode ter sido algo prejudicado, a música, a beleza, estava lá.

Diogo Alexandre Bock Ensemble
Com o piano entregue a Bram De Loose, que toca no disco em vez de Xan Campos que tocou no concerto de apresentação do disco no Seixal em Outubro de 2021, o concerto padeceu de alguns dos males dessoutro do Sax Ensemble sobre que atrás escrevi.
Diogo Alexandre tinha feito no Seixal Jazz um dos que foi, na minha apreciação, um dos concertos de 2021: uma escrita luxuriante para uma execução brilhante; música impetuosa e prenhe, notável em qualquer parte do mundo.
Mas no intento de estender o concerto para além dos cinquenta e cinco minutos originais, Diogo Alexandre incentivou os músicos a solar, sem que a pertinência do objectivo fosse clara. Faltou isso: pertinência, nos solos, que surgiram amiúde descabidos e longos, apenas porque era necessário estender a música. E enfim, apesar da minha observação, à semelhança do que tinha acontecido no concerto de Pedro Moreira, se o espectáculo perdeu, foi sempre evidente o nível dos executantes e a excelência da escrita de Diogo Alexandre permaneceu intacta.

O 25.º Valado Jazz terminou, para o ano há mais. Longa vida ao Festival de Jazz do Valado dos Frades!


Antecipação

Fenómeno de longevidade, o Festival de Jazz do Valado dos Frades entra nas duas últimas semanas com uma programação imbatível. Ao longo de um quarto de século o Valado Jazz tem-se afirmado como um dos mais importantes festivais de Jazz nacionais (de programação quase inteiramente nacional), mercê de uma programação sabedora – do ilustre Adelino Mota -, mas de igual forma da generosidade e entusiasmo da equipa que o produz, e do público.

Nos últimos anos o festival tem-se desenrolado em duas fases, uma primeira com uma programação mais alargada e popular, na Nazaré, e uma segunda, mais dura, eventualmente mais mainstream (mesmo se muitos dos projectos que por lá passam pouco tenham de tradicional, como é o caso do «Two Maybe More» de Pedro Moreira). Este ano, essa programação mais alargada pôs frente a frente a cantora Lena d’Água e a ecléctica e proficiente Orquestra de Jazz do Município da Nazaré, levou à Nazaré dois velhos amigos: Maria João e Mário Laginha; e ainda duas orquestras de dixieland, que percorreram as ruas da Nazaré e Valado dos Frades.

A programação dura (partindo da ideia de que o Jazz é a música que os músicos de Jazz tocam – mesmo se muito do que tocam vão buscar a outros lados) começa na próxima quinta, 19 de Maio, na Sala do Clube do Valado dos Frades.

A abertura está por conta do Carlos Azevedo Quarteto, que deverá tocar a música do recente disco «Serpente». Compositor, pianista, director da Orquestra Jazz de Matosinhos, Carlos Azevedo é um dos mais insignes músicos de Jazz nacional. Com ele estarão José Miguel Moreira, Miguel Angelo e Mario Costa.

André Murraças interessou-se pelo Jazz muito cedo, tendo integrado a Orquestra de Jazz da Nazaré com 17 anos de idade. É um «regresso a casa» de um caso de sucesso. Com ele estarão João Carreiro, Francisco Brito e Luís Candeias.

E a semana completa-se com o Pedro Moreira Sax Ensemble, que deverá interpretar música do CD «Two Maybe More», que venceu o prémio da crítica nacional para o melhor disco de Jazz nacional de 2021. Sobre este disco escrevi:
Pedro Moreira joga magistralmente com os timbres dos saxofones: dois sopranos, dois altos, dois tenores e dois barítonos; e naquela mescla de formas musicais experimentamos a mesma sedução feérica do espectáculo visual do bailado, dos corpos em movimento.
Música para além do que ouvimos, cor e movimento, formas e harmonia, desconcertante e envolvente, «Two Maybe More».

Ainda ao fim da tarde do domingo desta primeira semana, o «concerto comentado» “i pru vi 'zar”, por João Grilo e Marcos Cavaleiro.

A próxima semana retoma o festival na quinta feira 26 com o Quarteto Pacífico do histórico Mário Barreiros que irá apresentar o CD de 2022  «Dois Quartetos Sobre o Mar» à frente de uma formação de luxo, com Ricardo Toscano, Abe Rábade e Carlos Barretto.

Na sexta toca outro homem da casa, o impetuoso João Capinha, que tocará «Entre Dimensões», à frente de um quinteto que conta com Cláudio Silva, Carlos Garcia, João Custódio e João Rijo.

E o festival termina no sábado 28 com o Bock Ensemble de Diogo Alexandre. Baterista singular no dramatismo que coloca na execução, este Bock Ensemble é um trabalho notável de composição (e execução ao mais alto nível, por um septeto de cariz, diria, ellingtoniano), que é desde já um dos melhores trabalhos dos últimos anos (e quiçá dos próximos).
Para os que não confiam no meu juízo, nada como uma deslocação ao Valado, para a festa de encerramento do 25.º Festival de Jazz do Valado dos Frades.

17 de Maio de 2022   

 

Sáb 30 Abril Nazaré Cine-teatro da Nazaré 22.00 Big Band M. Nazaré + Lena d'Água

Joaquim Pequicho (sa), Gustavo Mateus (sa), Tiago Vigia (st), Pedro Morais (st), Nuno Mendes (sb),Vítor Guerreiro (t), Andreia Marques (t), André Venâncio (t), Margarida Louro (t), André Ramalhais (trb), Ruben da Luz (trb), Rui Correia (trb), Gil Silva (trb), Gonçalo Justino (g), Ricardo Caldeira (p), Tiago Lopes (b), Bruno Monteiro (bat), Júlia Valentim (voz), Lena d'Água (voz), Adelino Mota (dir)

           
Dom 1 Maio Valado dos Frades Praça 25 de Abril 16.30 DixieNaza Jazz Band Vitor Guerreiro (t), Nuno Mendes (ss), Daniel Vinagre (s), Élio Fróis (trb), Celso Batista (sousa), Márcio Silvério (bj), Vitor Copa (bat)
Xaral's Dixie Jaime Gomes (ss), Nuno Simões (st, voz) Gonçalo Frade (sb), Pedro Félix (t), João Faria (bombo, t, voz), António Crachat (trb), Samuel Louro (bj), Gilberto Rosa (sousa), Duarte Fonseca (bat)
           
Sáb 7 Maio Nazaré Cine-teatro da Nazaré 22.00 Mário Laginha Trio convida Maria João Maria João (voz), Mário Laginha (p), António Quintino (ctb), João Pereira (bat)
           
Dom 15 Maio Nazaré Av. Marginal da Nazaré 15.00 DixieNaza Jazz Band Vitor Guerreiro (t), Nuno Mendes (ss), Daniel Vinagre (s), Élio Fróis (trb), Celso Batista (sousa), Márcio Silvério (bj), Vitor Copa (bat)
           
Qui 19 Maio Valado dos Frades Sala do Clube 22.00 Carlos Azevedo Quarteto Carlos Azevedo (p, c), José Miguel Moreira (g), Miguel Angelo (ctb), Mario Costa (bat)
Sex 20 Maio Valado dos Frades Sala do Clube 22.00 André Murraças Quarteto André Murraças (s), João Carreiro (g), Francisco Brito (ctb), Luís Candeias (bat)
Sáb 21 Maio Valado dos Frades Sala do Clube 22.00 Pedro Moreira Sax Ensemble
«Two Maybe More»
Pedro Moreira (st), Mateja Dolsak (st), Ricardo Toscano (sa), Daniel Sousa (sa), Tomás Marques (ss), Bernardo Tinoco (ss), Júnior Maceió (sb), João Capinha (sb), Mário Franco (ctb), Luis Candeias (bat)
Dom 22 Maio Valado dos Frades Sala do Clube 17.00 “i pru vi 'zar”
(concerto comentado)
João Grilo (comentador, p), Marcos Cavaleiro (comentador, bat)
           
Qui 26 Maio Valado dos Frades Sala do Clube 22.00 Mário Barreiros Quarteto Pacífico Ricardo Toscano (sa), Abe Rábade (p), Carlos Barretto (ctb), Mário Barreiros (bat)
Sex 27 Maio Valado dos Frades Sala do Clube 22.00 João Capinha Quinteto
«Entre Dimensões»
João Capinha (s, cl, f), Cláudio Silva (t), Carlos Garcia (p), João Custódio (ctb), João Rijo (bat)
Sáb 28 Maio Valado dos Frades Sala do Clube 22.00 Diogo Alexandre «Bock Ensemble» João Mortágua (s), Tomás Marques (s), Paulo Bernardino (clb), André Fernandes (g-el), Bram de Looze (p), Demian Cabaud (ctb), Diogo Alexandre (bat, c)